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Capítulo 160 - Travessia

  “é isso, vou ter que me mostrar”

  A curta caminhada entre os prédios havia acabado. Até agora, tudo havia corrido bem. Gra?as a pura sorte – e talvez um pouco de habilidade –, Ana conseguira atravessar as ruas sem chamar aten??o. Mas sua jornada furtiva finalmente chegou a um impasse.

  A pra?a.

  De longe, já podia ver o que estava por vir. Um vasto campo aberto, servindo como palco principal da batalha. O espa?o era enorme, uma vez projetado para ser um local de celebra??o e encontro, mas agora transformado em um turbilh?o de caos.

  A pra?a era basicamente o cora??o de Insídia, a divis?o central onde as áreas industriais e residenciais se conectavam. Ali ficavam os port?es imponentes que levavam à parte central da cidade, o último basti?o de defesa antes do mercado principal e das estruturas mais protegidas do reino.

  Claro, agora, n?o havia celebra??o ou comércio. Apenas luta, uma barreira de a?o e carne.

  Os bancos e árvores bem alinhados, antes símbolos de ordem e beleza, agora serviam como barricadas improvisadas ou estavam simplesmente destruídos. Até mesmo as fontes, que uma vez trouxeram frescor ao ambiente, estavam secas ou cobertas de sangue.

  N?o havia cobertura, muito menos rotas alternativas.

  Ana respirou fundo, o peso da decis?o evidente em sua express?o.

  — Bom, n?o adianta enrolar agora…

  Em meio ao seu murmúrio inaudível, sem hesitar, ela correu diretamente pelo campo. A princípio, tentou evitar conflitos diretos. Era mais fácil desviar das lutas ao invés de se envolver nelas. Saltou para longe de um golpe de espada aqui, esquivou de um disparo de flechas ali. Esbarrou em soldados que sequer perceberam sua presen?a, de t?o concentrados que estavam em seus próprios combates.

  Mas n?o demorou para o problema aparecer.

  A lan?a negra.

  Seu brilho estranho, quase fosco, destacava-se no meio da confus?o. A arma se erguia como uma bandeira, era impossível de ignorar, uma assinatura que traía qualquer tentativa de passar despercebida. Assim, n?o foram poucos os combatentes que come?aram a virar a cabe?a, notando a figura de Ana atravessando o campo.

  — Ei, ali! é ela! — o primeiro inimigo a encará-la gritou o mais alto que p?de, avisando de sua presen?a.

  Para Ana n?o foi uma surpresa conhecerem algumas informa??es a respeito de sua aparência, afinal, saber o básico sobre a aparência do líder inimigo era o mínimo de prepara??o esperada quando se marchava diretamente para seu castelo.

  — De qualquer forma, eu deveria ter trocado a máscara — grunhiu a mercenária, alinhando a arma ao corpo.

  O primeiro ataque veio rápido. Um soldado inimigo, com uma espada desgastada, avan?ou em sua dire??o. Ana desviou com facilidade, girando a lan?a em um movimento fluido que n?o apenas desarmou o homem, mas abriu um corte profundo em seu flanco.

  Com o grito do primeiro, mais soldados avan?aram. Pareciam conversar entre si, dar ordens confusas, e às vezes até xingá-la, mas Ana apenas ignorou tudo. Segurando a espada-lan?a com firmeza, trocou a postura de corte para embestida, e empalou de uma só vez a dupla que se aproximava.

  Ambos caíram quase simultaneamente, enquanto Ana largava a grande arma para n?o ser acertada por um golpe de machado pesado que vinha de sua lateral, cortando o ar a milímetros de seu quadril. Sem sequer perder o equilíbrio, chutou o pulso do soldado que carregava a arma, fazendo-o soltar a mesma. Baixando o corpo em um movimento limpo, o pegou para si, erguendo o machado em um arco vertical que rasgou de imediato do umbigo a clavícula de seu oponente.

  O sangue espirrou em um arco grotesco, sujando boa parte de sua armadura escura. Sentindo o forte cheiro de ferro, Ana ficou imóvel por um instante, o machado pingando, uma gota de cada vez, ao seu lado.

  Os corpos à sua volta estavam contorcidos, parados em po?as cada vez maiores de vermelho escuro. O som ao seu redor mudou. As vozes que se separaram da luta principal para enfrentá-la agora pareciam… hesitantes.

  Ela levantou a cabe?a, o olhar varrendo os soldados que ainda estavam de pé. Achou que ninguém mais viria, mas, apesar dos passos vacilantes, n?o demorou para que novos inimigos corressem com as armas em punho.

  Ana jogou o machado com for?a em dire??o a um homem robusto com uma armadura pesada que tomou a frente. A arma girou no ar, e ele n?o foi rápido o suficiente para se esquivar, sendo acertado no peito. Com a lamina cravada profundamente em sua armadura, cambaleou para trás, caindo com um baque surdo, já sem vida.

  Aproveitando a breve brecha, ela deu um passo à frente, puxando a lan?a do ch?o com facilidade.

  — Mais alguém? — perguntou, o tom baixo e provocador.

  Dois soldados trocaram olhares, e mesmo sem palavras, ficou claro o que decidiram: atacar juntos.

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  "Tolos."

  O soldado mais baixo veio com uma lan?a longa, tentando usar o alcance para manter Ana afastada. Ela desviou o golpe lateral com facilidade, movendo-se como uma esgrimista profissional, e respondeu com um golpe certeiro no joelho do homem. A lamina afiada cortou profundamente, dobrando sua perna de forma antinatural.

  O segundo tentou aproveitar a abertura, girando uma espada curta na dire??o do pesco?o dela. A rainha inclinou-se para trás, e antes que o soldado pudesse recuperar o equilíbrio, ela girou a lan?a, o fio cortando seu est?mago em um arco limpo.

  Os dois caíram quase ao mesmo tempo, o som de seus corpos atingindo o ch?o ecoando pela pra?a.

  Foi ent?o que Ana notou.

  Os outros soldados come?aram a recuar.

  Um ou dois tentaram reunir coragem e se reagrupar, mas ninguém os seguiu. Passos hesitantes transformaram-se em passos rápidos para trás, e logo, o campo ao redor dela parecia mais vazio do que antes.

  "Est?o me evitando."

  Uma risada baixa escapou de seus lábios. E ent?o, sem conseguir segurar mais, ela gargalhou.

  — Ent?o é isso? — ela gritou, sua voz clara como um sino em meio ao caos. — Vocês queriam lutar, n?o queriam?

  Alguns soldados trocaram olhares nervosos, mas ninguém respondeu.

  Ana deu um passo à frente, e mesmo esse movimento simples fez os poucos que estavam à sua frente recuarem mais.

  — Eu podia fazer isso o dia todo — comentou, rindo ainda mais, enquanto dava mais um passo, vendo novamente se afastarem. Balan?ando a cabe?a em descren?a, girou a lan?a com um movimento ágil, descansando a lateral n?o letal da arma no ombro.

  Ela sabia que aquilo n?o duraria muito. Mais cedo ou mais tarde, novos desavisados viriam, e a luta recome?aria. No entanto, decidiu que aproveitaria a paz, e com um ritmo constante, sua lan?a negra continuava a fazer seu trabalho.

  Cada estocada perfurava carne, cada golpe rasgava músculos e tend?es. Ela n?o olhava para trás. N?o precisava confirmar se os corpos que caíram estavam realmente mortos. O importante era abrir caminho.

  “Preciso encontrá-los antes que os de alto rank comecem a me mirar.”

  Foi sorte n?o os ter encontrado até agora, e esperava que continuasse assim.

  Os mascarados que a viram passar vibraram em silêncio, como se estivessem assistindo a um espetáculo reservado apenas para eles. N?o fizeram alarde, mas o brilho nos olhos por trás das máscaras denunciava sua reverência quase religiosa. Os poucos corrompidos, lutando nos flancos da batalha, n?o eram diferentes. Sentiam o sangue correr mais rápido em suas veias, como se a presen?a da rainha reacendesse a vontade de lutar, de vencer.

  E, por fim, quem parecia mais feliz nisso tudo era a própria lan?a negra.

  A longa lamina se banhava no sangue dos ca?adores, cada impacto ressoando em uma vibra??o quase viva. A cada corpo que caía, um novo pequeno risco surgia no metal, uma cicatriz que a arma carregava como um troféu.

  Ana parou por um breve momento, seus olhos fixos no estranho armamento em suas m?os. N?o foi a primeira vez que parou para refletir sobre ele, e sabia que n?o seria a última. Os riscos na lamina eram incontáveis, sobrepostos ao longo dos anos como se narrassem batalhas passadas. Apenas a própria arma conhecia o número exato, pois a infinidade de marcas que se entrela?avam desapareciam umas nas outras, sendo impossíveis de distinguir.

  O pensamento veio rápido, quase como um sussurro em sua mente. Mas, t?o rápido quanto surgiu, foi empurrado para o fundo de sua consciência. N?o havia tempo para sentimentalismos.

  Porque, enfim, Ana os viu.

  Do outro lado do campo, dois conselheiros se destacavam como faróis na escurid?o. Suas máscaras demoníacas, uma vermelha e outra azul, brilhavam com uma aura sinistra sob a luz difusa e instável do campo de batalha.

  Mesmo em meio ao caos ensurdecedor, eles eram inconfundíveis. Suas posturas erguidas, os movimentos precisos e a eficiência brutal deixavam claro que n?o eram meros soldados. Pareciam máquinas de matar, mas n?o lutavam com a fúria de quem apenas busca destrui??o. Eram meticulosos, trabalhavam de forma calculada, ajudando os soldados em pequenos embates e mantendo uma linha defensiva na maior parte do tempo.

  Mas quando atacavam, uma morte era garantida.

  A dupla era uma vis?o impressionante de sincronia.

  Alex, em sua raivosa máscara azul, disparava como um meteoro em dire??o aos inimigos, seus socos esmagadores fazendo o ch?o tremer e os corpos voarem. Cada golpe parecia ressoar com uma energia primal, uma for?a que nenhum escudo ou armadura parecia capaz de deter.

  Fernando, com sua rabugenta máscara vermelha, era o equilíbrio perfeito para o outro conselheiro. Ele se movia com fluidez, quase como se estivesse dan?ando, empunhando dois sabres de design estranho que cortavam ferozmente o ar. Suas laminas brilhavam com um tom pálido, e mesmo para quem pouco conhecia sobre metal, estava claro que era algo de primeira qualidade, o que era refletido em seus ataques extremamente precisos, os quais sempre encontravam pontos vitais.

  Enquanto Ana os observava, uma onda de satisfa??o tomou conta de seu rosto.

  Ent?o, algo em sua vis?o periférica chamou sua aten??o.

  Pendurada em um dos telhados próximos, quase escondida entre as sombras enquanto disparava com seu grande arco, uma pequena figura ruiva se destacava. A garota parecia completamente à vontade, como se estivesse assistindo a um espetáculo. Quando percebeu que Ana a notara, acenou com uma anima??o quase infantil.

  Ana ergueu a m?o e retribuiu o aceno com descontra??o, um pequeno sorriso dan?ando em seus lábios.

  "Finalmente os encontrei."

  Por fim, todos estavam onde deveriam estar. O cenário estava montado, as pe?as posicionadas. O ato final podia finalmente come?ar.

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